A baixa adesão à vacinação está diretamente ligada à alta prevalência da infecção. A falha na comunicação sobre os subtipos do vírus dificulta a conscientização e o rastreamento precoce.
O câncer de colo de útero é uma doença que pode ser evitada com a realização regular do exame de Papanicolau, no entanto, a mortalidade por essa condição vem crescendo no Brasil ao longo dos anos. Segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa é de que mais de 16 mil novos casos de câncer de colo de útero sejam diagnosticados no país em 2021, evidenciando a necessidade de mais campanhas de conscientização sobre a importância da prevenção.
Além do câncer de colo de útero, é fundamental estar atento a outros tipos de tumores que podem acometer o sistema reprodutor feminino. Essas patologias também podem ser prevenidas com acompanhamento médico regular e hábitos saudáveis, destacando a importância do autocuidado e da busca por informações sobre saúde. Manter-se informado e realizar exames preventivos são atitudes essenciais para preservar o bem-estar e a qualidade de vida.
Câncer de Colo de Útero: Tumores e Patologia
Vale lembrar ainda que se trata do terceiro tipo de câncer mais prevalente entre mulheres, excluídos os tumores de pele não melanoma, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).PUBLICIDADESegundo Eduardo Cândido, membro da Comissão de Ginecologia Oncológica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), mais de 90% dos casos de câncer de colo de útero se desenvolvem a partir da infecção pelo papilomavírus (HPV), sendo que os subtipos 16 e 18 representam a maioria dos casos – no total, são 200 subtipos identificados.Ele afirma que cerca de 70% a 80% da população entra em contato com o HPV em algum momento da vida, principalmente por meio da atividade sexual.
Prevenção e Conscientização da Doença Passível
Embora a maioria das infecções pelo vírus seja resolvida pelo sistema imunológico, algumas persistem, o que pode resultar no desenvolvimento de lesões e, eventualmente, no desenvolvimento do câncer. Mais de 90% dos casos de câncer de colo de útero se desenvolvem a partir da infecção pelo papilomavírus (HPV), sendo que os subtipos 16 e 18 são os principais culpados.
Rastreamento e Detecção Precoce
Foto: Jo Panuwat D/Adobe Stock Diagnóstico precoceNa avaliação de Angélica Nogueira, oncologista clínica e membro do Comitê de Lideranças Femininas da Sociedade Brasileira Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a dificuldade para reduzir tanto a prevalência quanto a mortalidade pela doença indica uma necessidade contínua de conscientização sobre a importância dos exames de rastreamento precoce, do uso de preservativos e da vacinação contra o HPV.Ela explica que as lesões precursoras do HPV, que acometem o colo do útero, são consideradas pré-cancerígenas e não provocam sintomas, sendo visíveis apenas por meio do exame de papanicolau.
Importância do Rastreamento e Conscientização
Agora, quando os sintomas se tornam perceptíveis, como sangramentos, corrimentos com cheiros fortes, dor durante a relação sexual e infecções recorrentes, significa que o problema já evoluiu para o câncer de colo de útero.Leia tambémUm terço dos homens é portador do vírus do HPV, segundo OMSHPV: Meninos de até 14 anos são os que menos se vacinam contra o vírusNo Brasil, a recomendação é de que, entre 25 e 64 anos, mulheres cis, homens trans e pessoas não-binárias identificadas como mulheres ao nascer realizem o papanicolau a cada três anos.
Prevenção e Vacinação contra o HPV
O exame, que é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pode reduzir de 60% a 90% dos casos desse tipo de tumor.Contudo, 20% do público-alvo das capitais brasileiras nunca chegou a realizar o exame, segundo levantamento do Observatório de Atenção Primária à Saúde da Umane, associação civil dedicada ao apoio às iniciativas de saúde pública.
Desafios na Cobertura Vacinal e Importância da Imunização
O uso de preservativos e a vacinação são consideradas as medidas essenciais para evitar o aparecimento do câncer de colo de útero.
Ministério da Saúde e Ministério da Educação: Parceria Necessária
No Brasil, existem dois tipos de vacina disponíveis até o momento:Vacina quadrivalente: disponível no SUS, é indicada para meninas e meninos de 9 a 14 anos; homens e mulheres transplantados; pacientes oncológicos em uso de quimioterapia e radioterapia; pacientes com HIV/Aids, e vítimas de violência sexual.Vacina nonavalente: disponível na rede privada, é indicada a crianças e adultos de 9 a 45 anos.A vacina quadrivalente protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 de HPV, enquanto a nonavalente protege ainda contra os subtipos oncogênicos 31, 33, 45, 52 e 58.
Impacto da Falha na Comunicação na Cobertura Vacinal
Considerando os subtipos 16 e 18, os mais relevantes quando se trata do câncer de colo de útero, o primeiro imunizante oferece 70% de eficácia na prevenção, enquanto o segundo apresenta uma proteção de até 90%.O problema é que, assim como acontece com as taxas de realização do exame de papanicolau, os índices vacinais contra o HPV também estão abaixo do ideal.PUBLICIDADESegundo dados do Ministério da Saúde, 87,08% das meninas brasileiras entre 9 e 14 anos de idade receberam a primeira dose da vacina em 2019.
Em 2022, a cobertura caiu para 75,81%. Entre os meninos, os números também são preocupantes: a cobertura vacinal caiu de 61,55%, em 2019, para 52,16%, em 2022.Vale ressaltar que, além do câncer de colo de útero, o HPV pode causar outros tipos de câncer, como vaginal, anal, peniano e na orofaringe.
Testes Moleculares e Novas Abordagens para o Diagnóstico
Por esse motivo, a vacina também é indicada a homens cis, mulheres trans e pessoas não-binárias designadas como homens no nascimento.’Além disso, é uma forma de quebrar o ciclo de infecção.
A partir do momento que você se vacina, também livra seu parceiro do vírus’, ressalta Cândido.PublicidadeDesafios da cobertura vacinalNa opinião da pediatra Mônica Levi, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a cobertura vacinal abaixo do ideal está associada a uma falha na comunicação.Levando em consideração que o público-alvo são meninos e meninas de 9 a 14 anos, a avaliação de Mônica é que deveria haver uma comunicação mais estratégica, que leve em consideração os interesses desse perfil etário, de forma a ressaltar a importância da vacina e sua segurança para adolescentes e pré-adolescentes.Em altaSaúdeLoading…Loading…Loading…Loading…Loading…Loading…Além disso, para a oncologista Angélica, a cobertura vacinal contra o HPV está aquém do desejado devido ao tabu criado pelos responsáveis de que a vacina pode colaborar para o início da vida sexual precoce.’Já existem estudos que desmistificam essa ideia.
O que os pais precisam ter em mente é que o HPV pode evoluir para diversos tipos de câncer, especialmente na vida adulta. Por isso a vacina é tão necessária’, afirmou a especialista.Para Mônica, uma forma de driblar o problema seria a união entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação.
Essa ideia está atrelada aos índices vacinais atingidos em 2014, primeiro ano da vacinação contra o HPV no Brasil. ‘Nessa época, a vacina era aplicada nas escolas e atingimos cobertura de 90%.
Quando foi retirada das instituições de ensino, em 2015, a cobertura caiu 20%’, descreve.SUS conta com novo exame para diagnósticoConsiderando os desafios relacionados ao câncer de colo de útero, o Ministério da Saúde adotou, em março deste ano, uma nova abordagem no SUS para a detecção precoce do HPV.
A nova tecnologia emprega testes moleculares para identificar o vírus, utilizando coleta de material genético (em algumas situações, diretamente do colo do útero).Além disso, a tecnologia possibilita a realização do teste a cada cinco anos, em contraste com a recomendação de rastreamento do HPV por meio do papanicolau a cada três anos.PublicidadeNa visão de Mônica, a testagem molecular pode ser considerada um exame de alta performance, pois o material genético é analisado por máquinas, minimizando a necessidade de intervenção humana.
‘Apesar da eficácia do papanicolau, ele é sensível à qualidade e técnica utilizadas. Além disso, podem ocorrer problemas como quebra ou extravio das lâminas’, afirma Mônica.Mas a especialista reforça a importância do papanicolau, já que outros problemas podem ser detectados por meio desse exame. E ela faz questão de lembrar, mais uma vez, do papel da imunização.
‘O cenário ideal é estarmos protegidos da doença. Portanto a vacinação continua sendo imprescindível, independentemente da qualidade dos exames’, acrescentou.Encontrou algum erro?Entre em contatoCompartilhe:Tudo SobrecâncerúterovacinaçãovacinaComentáriosOs comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.Já sou Assinante
Fonte: @ Estadão
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